Mapeamento Linfopedia: linfoma do manto em detalhes

O linfoma de células do manto (LCM) é um subtipo raro e agressivo de linfoma não-Hodgkin (LNH), representando cerca de 5-7% dos casos dessa categoria.

Ele se origina de células B na zona do manto dos folículos linfoides, que expressam marcadores específicos, como CD5 e CD20, e é frequentemente associado a alterações genéticas específicas, como a translocação t(11;14). Essa alteração resulta na superexpressão do gene CCND1, que codifica a ciclina D1, promovendo o crescimento celular descontrolado.

O linfoma do manto afeta predominantemente homens acima dos 60 anos e tem uma evolução variável. Em alguns casos, apresenta crescimento lento e, em outros, comportamento agressivo, o que impacta as estratégias de tratamento.

Este artigo detalha suas características, diagnóstico, opções de tratamento e avanços recentes.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas iniciais são frequentemente inespecíficos e incluem:

  • Fadiga persistente;
  • Perda de peso inexplicada;
  • Febre recorrente;
  • Sudorese noturna;
  • Linfadenopatia (aumento dos linfonodos);
  • Distúrbios gastrointestinais (devido ao envolvimento do trato gastrointestinal em até 90% dos casos).

O diagnóstico do linfoma do manto é realizado por meio de uma abordagem multidisciplinar que combina diversas técnicas para caracterizar a doença de forma detalhada. São elas:

  1. Biópsia de linfonodo – determina a morfologia e imunofenótipo das células malignas;
  2. Imunohistoquímica – identifica a expressão de ciclina D1 e outros marcadores como CD5 e CD20;
  3. Exames de imagem – como PET-CT, para estadiamento;
  4. Estudos genéticos – confirma a translocação T (11;14) e identifica mutações adicionais que podem influenciar o prognóstico.

Tratamento e Prognóstico

O manejo do linfoma do manto é complexo e altamente personalizado, variando conforme a idade, o estado geral de saúde do paciente e o estágio da doença no diagnóstico.

Em casos raros de detecção precoce, a radioterapia localizada pode ser uma opção, embora a maioria dos pacientes seja diagnosticada em estágios mais avançados, demandando abordagens terapêuticas mais intensivas.

Para indivíduos com uma forma mais indolente e assintomáticos, pode ser adotada a estratégia de “watch and wait”, ou seja, o monitoramento ativo até que os sintomas se manifestem ou haja progressão da doença.

Quando o tratamento se torna necessário, a terapia de indução costuma envolver quimioterapias combinadas, protocolos como R-CHOP/R-DHAP ou R-Bendamustina são frequentemente utilizados como imunoquimioterapia.

Para pacientes que apresentam boa performance de desempenho clínico (ECOG) e se enquadram em critérios específicos, o transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas é considerado uma opção para consolidar a remissão alcançada com a imunoquimioterapia. Além das abordagens tradicionais, terapias direcionadas vêm ganhando destaque no manejo do linfoma do manto. Inibidores de BTK, como ibrutinibe, acalabrutinibe e zanubrutinibe, demonstram eficácia em casos de doença refratária ou recidivante, atuando no bloqueio de vias de sinalização essenciais para a sobrevivência das células malignas.

Dominar os detalhes do linfoma do manto é essencial para aprimorar a prática clínica e oferecer um cuidado mais preciso aos pacientes. Compreender suas particularidades moleculares, os mecanismos de resistência e os sistemas de estratificação de risco permite a integração de novas estratégias terapêuticas na rotina médica.

Entre os aspectos mais relevantes, destacam-se:

Marcadores genéticos e moleculares

Além da translocação clássica t(11;14), a presença de mutações em genes como TP53 e MYC está associada a um prognóstico menos favorável, sugerindo a necessidade de abordagens terapêuticas diferenciadas.

Estratificação de risco

Ferramentas como o MIPI (Mantle Cell Lymphoma International Prognostic Index) auxiliam na personalização do tratamento, permitindo uma avaliação mais precisa do risco e da resposta terapêutica de cada paciente.

Resistência ao tratamento

Pesquisas atuais buscam compreender as vias de sinalização que conferem resistência aos inibidores de BTK, o que pode levar ao desenvolvimento de novas estratégias para contornar esse desafio.

O microbioma

Estudos emergentes indicam que o microbioma pode influenciar a resposta ao tratamento, abrindo novas perspectivas para intervenções que integrem essa dimensão no manejo do linfoma do manto.

Embora o linfoma do manto apresente um prognóstico desafiador, com sobrevida mediana estimada entre 3 e 5 anos, os avanços recentes têm contribuído significativamente para melhorar os desfechos clínicos.

A combinação de terapias tradicionais com abordagens direcionadas já na primeira linha e a compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos na doença estão transformando o cenário terapêutico, oferecendo maior esperança e melhor qualidade de vida aos pacientes.

Principais Avanços em Pesquisa

Nos últimos anos, a pesquisa em linfomas avançou de forma notável, impulsionada por descobertas apresentadas em importantes congressos internacionais, como o ASH 2024 em San Diego e o EHA 2024 em Madri. Esses eventos trouxeram à tona inovações que estão transformando o manejo clínico dos pacientes, principalmente aqueles com formas mais agressivas ou refratárias da doença. Entre os avanços, destacam-se os seguintes:

Terapias celulares CAR-T

Tratamentos como o brexucabtagene autoleucel estão redefinindo o manejo de pacientes refratários, proporcionando respostas expressivas mesmo em casos que não responderam a tratamentos convencionais.

Novos inibidores de BTK

Moléculas de segunda geração têm demonstrado eficácia com um perfil de efeitos colaterais reduzido, possibilitando o tratamento de pacientes mais frágeis sem comprometer a eficácia terapêutica.

Inibidores de BCL-2

O venetoclax está sendo explorado em combinação com outras terapias como os iBTK, oferecendo uma nova perspectiva para subgrupos específicos com marcadores genéticos que indicam risco aumentado.

Ensaios clínicos combinados

A integração de imunoterapias, quimioterapia e terapias-alvo tem mostrado benefícios promissores em estudos preliminares, abrindo caminho para abordagens mais personalizadas e eficazes no futuro.

O linfoma de células do manto é um desafio clínico devido à sua heterogeneidade e agressividade. No entanto, avanços significativos estão mudando o panorama do tratamento, oferecendo maior esperança para pacientes e abrindo novos caminhos para o desenvolvimento de terapias.

A educação contínua de pacientes, familiares e profissionais é essencial para enfrentar essa doença de forma eficaz.

Caso seja um paciente com linfoma do manto e queira agendar sua consulta, presencial no Rio de Janeiro, ou por Telemedicina, para segunda opinião ou acompanhamento, no meu site, você encontrará todas as informações de contato. Clique aqui para acessar.

Dra. Adriana Scheliga

Conheça todos os estágios do Mieloma Múltiplo

O mieloma múltiplo é um tipo de câncer das células plasmáticas, responsáveis pela produção de anticorpos. Ele afeta, principalmente, a medula óssea, interferindo na imunidade, causando danos ósseos, renais e desregulando os níveis de cálcio no sangue. Este artigo detalha os estágios da doença, explicando como ela evolui, os sintomas em cada fase, e os avanços mais recentes no tratamento, baseados em dados apresentados nos últimos congressos médicos da área.

Sistemas de Estadiamento do Mieloma Múltiplo

O entendimento da progressão do mieloma múltiplo é feito por dois sistemas principais: Durie-Salmon e ISS (International Staging System).

O sistema Durie-Salmon, criado na década de 1970, analisa fatores como a carga tumoral, níveis de cálcio e hemoglobina, presença de lesões ósseas e quantidade de paraproteína no sangue e na urina. Baseado nisso, a doença é classificada em três estágios, que variam desde uma apresentação inicial e assintomática até formas avançadas com complicações graves, como fraturas ósseas e insuficiência renal.

Mais recentemente, o Sistema Internacional de Estadiamento (ISS), revisado em 2015, passou a integrar biomarcadores modernos como beta-2-microglobulina, albumina, lactato desidrogenase (LDH) e anormalidades genéticas específicas.

Essa abordagem permite uma avaliação mais precisa e personalizada, definindo os estágios com base em fatores prognósticos robustos:

  1. Estágio I: doença menos agressiva, sem alterações genéticas de alto risco e com níveis normais de LDH;
  2. Estágio II: intermediário entre os critérios do Estágio I e III;
  3. Estágio III: alta agressividade, com anormalidades genéticas desfavoráveis e LDH elevado.

Sintomas e Evolução

Nos estágios iniciais, o mieloma múltiplo pode ser silencioso, detectado apenas em exames de rotina, como níveis elevados de proteína monoclonal. Com a progressão, surgem sintomas mais evidentes, como anemia, dor óssea e maior suscetibilidade a infecções. Em estágios avançados, complicações graves como insuficiência renal, hipercalcemia e fraturas patológicas tornam-se frequentes.

Embora o estágio III seja frequentemente associado a um prognóstico mais reservado, os avanços terapêuticos têm ampliado significativamente a sobrevida e a qualidade de vida, mesmo para esses pacientes.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico envolve uma combinação de exames laboratoriais e de imagem, incluindo biópsia de medula óssea, ressonância magnética e em alguns casos o PET-CT. Estes exames ajudam a determinar a extensão da doença e orientar o plano terapêutico.

Nos estágios iniciais e assintomáticos, o tratamento pode em alguns casos selecionados ser adiado em favor do monitoramento ativo. Já em casos sintomáticos, o tratamento geralmente inclui uma combinação de medicamentos imunomoduladores, inibidores de proteassoma, anticorpos monoclonais e corticoides, seguidos por transplante de células-tronco para pacientes elegíveis.

O tratamento de manutenção com lenalidomida tem se mostrado eficaz para prolongar remissões e melhorar a sobrevida em longo prazo.

Avanços no Tratamento do Mieloma Múltiplo

Os últimos anos têm sido marcados por avanços impressionantes no tratamento do mieloma múltiplo, com destaque para as inovações apresentadas em congressos como o 21º Congresso da International Myeloma Society (IMS), realizado no Rio de Janeiro em setembro de 2024. Este evento trouxe à tona discussões fundamentais sobre terapias personalizadas e novas abordagens para casos de alto risco e refratários.

  • Terapias baseadas em anticorpos biespecíficos: medicamentos como o teclistamabe têm demonstrado alta eficácia ao mobilizar células T contra células malignas, oferecendo uma opção valiosa para pacientes refratários;
  • Terapias celulares CAR-T: o uso de CAR-T cells continua revolucionando o manejo da doença, apresentando taxas de resposta expressivas, mesmo em pacientes com resistência a múltiplas linhas de tratamento;
  • Novos inibidores moleculares: estudos recentes destacaram o venetoclax, especialmente em pacientes com mutações específicas, representando esperança para grupos com prognósticos desafiadores;
  • Medicina personalizada: os avanços na compreensão dos perfis genéticos e biomarcadores estão permitindo uma abordagem mais precisa e eficaz, especialmente no contexto de alto risco. Durante o congresso, foi enfatizada a importância de diretrizes globais dinâmicas que possam incorporar rapidamente esses avanços;
  • Abordagens para pacientes idosos: uma mudança de paradigma terapêutico está em curso, priorizando estratégias que alcancem a doença residual mínima (MRD) em pacientes aptos e reduzam toxicidades em pacientes mais frágeis, sempre com foco na qualidade de vida;
  • Doenças precursoras: sessões como a dedicada ao estudo iSTOPMM reforçaram a relevância da triagem ampla para detecção precoce da doença, além de novas estratificações de risco e o impacto do envelhecimento imunológico;
  • Doença recém-diagnosticada (NDMM): discussões abordaram a otimização da indução da primeira linha de tratamento, manutenção e consolidação, além da aplicação de citogenética para aprimorar a estratificação de risco.

Principais Perspectivas Futuras

A votação histórica do FDA, que reconheceu a MRD como desfecho clínico válido para aprovação acelerada de novos tratamentos, foi celebrada como um marco. Isso permitirá decisões terapêuticas mais rápidas e precisas, beneficiando pacientes ao redor do mundo.

Ainda que a cura definitiva para o mieloma múltiplo permaneça um objetivo distante, o progresso no conhecimento da biologia da doença e na personalização das terapias está transformando o manejo do mieloma em uma condição cada vez mais controlável a longo prazo.

A integração de terapias imunológicas, a estratificação de pacientes de alto risco e a adoção de diretrizes globais continuarão moldando o futuro da oncologia hematológica. O otimismo prevalece, sustentado pela promessa de avanços contínuos na ciência médica.

A ciência continua avançando, trazendo esperança para pacientes e profissionais da saúde em todo o mundo. E eu, como médica Hematologista e Oncologista e Pesquisadora Clínica, continuo de olho em tudo.

Caso queira agendar sua consulta, presencial no Rio de Janeiro, ou por Telemedicina, pela primeira vez, para segunda opinião ou acompanhamento, clique aqui para agendar.

Dra. Adriana Scheliga